Educar o coração
«Um homem vale o que vale o seu coração». Esta afirmação é muito conhecida. Significa que a capacidade de amar que temos não é um talento mais que possuímos: é o mais importante, o mais radical e aquele que configura toda a nossa existência e o nosso “valor” como pessoas.
Estamos criados para amar, como as aves para voar. E, como alguém dizia, possuímos um coração inquieto que não encontra descanso em nada que seja efémero, fugaz, passageiro.
Encontraremos a felicidade nesta vida se soubermos amar bem. Perderemos o bom caminho se nos deixarmos arrastar por amores não genuínos. No entanto, tanto num caso como no outro, sempre actuaremos “por amor”. Não conseguiremos nunca deixar de buscar a felicidade naquilo que fazemos, mesmo que a procuremos onde ela não está.
Logo, como conclusão lógica de tudo o que foi dito, o coração necessita de ser educado, protegido e guardado. Ele é como um motor de grande potência que precisa de cuidados e afinação, para que todos os seus cavalos nos façam avançar pelo bom caminho.
Se não pomos o coração nos nossos deveres quotidianos, eles ficam amorfos, sem alma e fazem-nos sentir pouco livres. Actuaremos como tantas pessoas que vivem em função do fim-de-semana e contemplam os restantes dias como um verdadeiro calvário que os asfixia.
Cada um de nós tende para aquilo de que gosta e aprecia. Educar o nosso coração é procurar que aquilo de que gostamos coincida com o nosso verdadeiro bem e com o que devemos fazer. Para isso, devemos formar o nosso coração e impedir que ele fique hipotecado por um prato de lentilhas, como aconteceu com Esaú.
Educar o coração também é saber guardá-lo a sete chaves, uma para cada defeito capital. Não podemos levar o coração na mão como se fosse uma mercadoria de baixo preço, que não receamos perder. Quem actua assim desconhece a sua grandeza, ignora o seu destino e, por tudo isso, não é consciente do valor inestimável que possui a sua capacidade de amar.
(Rodrigo Lynce de Faria)