– Vem, descansa do caminho
Diz-me aquilo que aprendeste
E as coisas que encontraste
Lá no mundo de onde vieste…
– Tantas coisas pude ver…
E outras não pude saber
Porque nem tudo no mundo
Nos cabe compreender
E se o destino revela
Outro tanto há de esconder…
– Vem, senta-te ao pé de mim
Diz-me aquilo que sentiste
E as coisas que deixaste
Lá no mundo de onde partiste…
– Aquilo que senti trago comigo
E ninguém o pode ver
Porque em mim tenho escondido
O que só eu pude sofrer
A cada um o seu caminho
Não há outra solução
Ninguém empresta a ninguém
Os passos de outros pés
Empresta-se talvez o calçado
Ou até mesmo o bordão
Mas ninguém ensina a ninguém
O que sente um coração…
– Vem, senta-te aqui um bocado
Sossega o teu corpo cansado
E conta-me como vieste
E que mapas tu seguiste
Se o céu era nublado…
– Uma coisa te vou dizer
Embora não te sirva de nada
Vim trazido pelas penas
De uma alma magoada
Por estranho que pareça
É assim que nasce a estrada
A dor é o empurrão
Que nos manda caminhar
Quando nos falta o chão
Aí não podemos ficar…
A tristeza é muito forte
Obriga-nos a prosseguir
É quando perdemos o norte
Que sabemos que temos de ir.
Texto de Elisabete Bárbara
imagem de Akira Kusaka