Hoje guardo os poemas que nos falam de tranças
acordei com o cheiro dos soalhos encerados
E ao longe a música de Schubert e de Liszt
Agarro as tuas mãos que já partiram
E sei que são elas que me prendem
Neste breve instante em que me encanto
E ajudas-me de novo a soletrar
A tua mão por sobre a minha e a caneta
e sei que não sou eu nem tu quem escreve
Mas sim a nossa força e o nosso amor
Havia também saias, blusas, folhos
de cambraia bordada e ponto aberto
E meias tricotadas e um álbum
de fotos e desenhos e recortes
Neles recolho os escritos mais antigos
Aqueles que nasceram ainda antes
De mim ou de ti, das nossas mães
Que existem nos seios de todas elas
E prendo-te de novo em cada som
Em cada verso, letra ou partitura
Em que os olhares se querem sempre bem
E em que o sempre volta a ser eterno.
(Paula Coelho Pais)