– Olha uma coisa. Quantos tipos de árvores há?
– Não conheço todos, mas há as árvores de fruto, as árvores de jardim e os livros.
– Os livros?
– Claro. Ora repara. Têm folhas. Tanto as folhas das árvores como as dos livros se agitam com o vento. Tanto as árvores como os livros tornam a nossa vida mais bela e se, do cimo de uma árvore podemos ver mais longe, também com os livros isso acontece.
– Mas as árvores têm raízes e os livros não.
– Os livros ganham raízes nos seus leitores e tão profundas são que atingem a profundidade das emoções e dos pensamentos.
– Mas podemos fazer uma casa na árvore e nos livros não.
– Os livros moram em nós. Os livros são casas a que podemos sempre regressar.
– Mas as árvores abrigam-nos da chuva e protegem-nos do sol e os livros não.
– Enganas-te. Nos livros também encontramos refúgio e aprendemos a abrigar-nos da solidão e da ignorância.
– Mas as árvores dão-nos oxigénio e os livros não.
– Os livros são a alma desanuviada e, com a alma desanuviada, respiramos fundo e dispomo-nos a continuar.
Texto de Elisabete Bárbara
ilustração de Heatherlee Chan