Podes levar o corpo, mas a alma não. O corpo, podes levá-lo, que é esse o destino dos corpos. Podes segurá-lo nos braços facilmente, porque é para isso que servem os teus braços. Não te pesa nenhum corpo, por maior e mais pesado que seja. Todos te pertencem. A tua força é essa, a de levares todos os corpos de todas as coisas nos teus braços. Mas é a única força que tens. Não tens outra. Fraca força a tua. Não há braços, nem os teus, que consigam carregar uma alma. A alma tem a força do amor e essa força tem a leveza do que não se consegue prender. Levas o corpo, mas a alma foge-te por entre os dedos. Podes levar o corpo, mas a ternura não. Podes levar até a voz, mas nunca o efeito das palavras doces que me dirigiu. As palavras doces de que o amor é feito. Podes fechar-lhe os olhos, mas nunca a forma como fui olhada. Nunca. Podes levá-lo daqui, mas nunca de mim. Nunca. Podes levar o corpo, é esse o destino de todos os corpos de todas as coisas, grandes e pequenas, novas e velhas, da terra e do mar, que nunca serás mais do que senhora de nada. O amor, esse, os teus braços não prendem, e o amor é tudo.
Texto de Elisabete Bárbara
ilustração de Tomaz Alen Kopera