Enrique Rojas é Catedrático de Psiquiatria e um dos melhores psiquiatras espanhóis. Autor de livros de psicologia e de “autoajuda” de grande êxito, pai de família, conferencista e incipiente pintor. (Vários dos seus livros estão traduzidos para o português pela Gráfica de Coimbra)
Resumimos, pelo seu evidente interesse, um artigo-entrevista de José Joaquín Iriarte publicado em abc.es.
O doutor Enrique Rojas está convencido de que “uma grande carência que sofre a sociedade dos nossos dias é da religião ou da espiritualidade e, o que é mais grave, a da falta de formação nesse sentido. Muita gente não conhece a Bíblia. E o que é que acontece? Que temos substituído a Bíblia pelas revistas do coração. Nem mais nem menos”. (…) Conhece “em directo” a alma humana. Tem escrito livros, dá aulas em Nova York e conferências em meio mundo, e escuta na sua consulta as angústias, frustrações e sofrimentos dos seus doentes. “No mundo mais desenvolvido, afirma, nós, os psiquiatras, temo-nos convertido em médicos de cabeceira. Quarenta anos atrás, éramos os médicos dos nervos. Hoje somos os médicos mais comuns porque a desorientação das pessoas é massiva”. Reafirma que no mundo há “um regresso do religioso; tenho-o verificado nos Estados Unidos e em países como a Rússia. As pessoas voltam às igrejas depois da revolução do 17 e da célebre frase de que a religião é o ópio do povo”.
A que se deve a degradação da sociedade e do indivíduo, tão evidentes hoje em dia?
Há una série de factores: mudanças aceleradas (mudámos mais em duas décadas do que num século quanto aos grandes conceitos); a degradação dos conteúdos televisivos; a posmodernidade, que impôs uma ética “light”; o hedonismo; a entronização do prazer a todo o custo; o consumismo, que leva a ter muitas coisas mas sem ter-se a si mesmo; o permissivismo, o vale tudo; a absolutização do relativo; e o materialismo.
E no que se refere à família?
Chegou-se a uma democratização boa e a outra má. Passou-se do patriarcado ao filiarcado. Hoje nas famílias não mandam os pais, mas os filhos. Por outro lado, perdeu-se a autoridade, essa autoridade que não há que confundir com o autoritarismo.
Tudo isto é o preço a pagar pela liberdade?
Creio que a sociedade melhorou em muitos aspectos de uma forma notável. Mas ao mesmo tempo o homem desumanizou-se.
Dá a impressão de que existe uma “internacional” que pretende aniquilar a família.
Por que se desfazem tantos casamentos?
Porque o matrimónio é um trabalho, é uma tarefa. E, numa sociedade tão hedonista, parece que desconhecemos um dado essencial: não há amor sem renúncias. O amor é, além disso, alquimia, magia, códigos secretos, cumplicidade, química e feitiçaria. Há uma metodologia do amor conjugal complexa. Se isto se desconhece, rompe-se o matrimónio. Eu não acredito no amor eterno. Acredito no amor que se trabalha pouco a pouco. (…) Há muitos amores que estão construídos com materiais de entulho. E, logicamente, isso não tem futuro.
Sem duvida. Quando o amor chega costuma ser cego, mas quando se vai embora é muito lúcido.
Sempre é possível refazer o matrimónio?
O importante é tentá-lo. No meu livro “Remédios para o desamor” (Temas de hoy – Traduzido para português na Gráfica de Coimbra), falo disso. Numa crise conjugal, o matrimónio pode recompor-se. Eu sugiro três notas para o conseguir: voltar a começar; o perdão (dá-lo e recebê-lo) e o seu correlativo: esforçar-se por esquecer; e, em terceiro lugar, lutar para não puxar pela lista de agravos do passado. Não esqueçamos que o mais difícil desta vida é a convivência.-
Resumo de Roberto Gutiérrez Matías, em PiensaUnPoco, 14.09.03. Traduzido por MM