Para conhecer os filhos, não é necessário sermos psicólogos, na acepção estritamente técnica do termo, pois há um conhecimento dos traços mais salientes da pessoa, do seu modo habitual de ser, de reagir, de situar-se em face dos acontecimentos, que parte da simples observação e que está ao alcance de qualquer pai ou mãe. Trata-se, com efeito, de um conjunto de observações sobre o carácter baseadas no senso comum, e que ao mesmo tempo encontram a sua confirmação no campo das pesquisas psicológicas: pela sua simplicidade podem, pois, ser utilizadas por qualquer pessoa animada de boa intenção, e são de segura confiabilidade pela sua base científica: a psicologia, ao contrário de tantas “modas passageiras”, nunca negou o valor da experiência e do bom senso.
Tudo isto tem um nome difícil: caracterologia. Mas não nos deixemos impressionar; trata-se apenas de conhecimentos práticos que podem oferecer:
– a moldura externa em que enquadrar a pessoa que desejamos conhecer, o que poderá esclarecer-nos melhor os traços do seu carácter;
– a consciência de que cada comportamento dos filhos tem um significado próprio, porque é uma manifestação do seu carácter e é susceptível de uma intervenção educativa. Seria, pois, um erro primário conceber o carácter de uma pessoa como algo tão estável que não admite um trabalho de formação.
Observando cuidadosamente os filhos, notar-se-á como não é possível encontrar na classificação e descrição dos “tipos” um retrato fiel da sua personalidade; isso é algo evidente, pois cada indivíduo tem uma personalidade inteiramente original. Seria, pois, um erro enquadrar um filho no tipo “amorfo” ou “sentimental”, mesmo que algum traço do seu carácter se situe neste tipo ou naquele.
Conhecer o carácter de uma pessoa significa, acima de tudo, tomar em consideração todos os elementos que o caracterizam, sem descurar nenhum e sem reduzir arbitrariamente a personalidade do indivíduo a um único conceito, erro em que se incorre quando se define um filho como maduro ou imaturo, introvertido ou extrovertido, altruísta ou egoísta.
O carácter compõe-se de elementos inatos e de elementos adquiridos. Os primeiros estão ligados ao organismo e não são susceptíveis de uma modificação total; são a constituição física, o temperamento e a inteligência (esta última nas suas várias formas: concreta, abstracta; lógica, imaginativa).
Os elementos adquiridos do carácter são:
– o conjunto dos sentimentos; a vida afectiva tem uma importância particular na formação do carácter;
– o conjunto dos valores e dos ideais, genericamente considerados como representações conceituais, que determinam a conduta e levam a preferir um modo de agir a outro;
– o conjunto das atitudes, consideradas como inclinação para reagir de um modo inteiramente pessoal; estão ligadas à vida afectiva e emotiva da pessoa.
A família pode exercer uma notável influência na formação dos sentimentos, dos valores e das predisposições. Na classificação e no estudo do carácter, foram tomados em consideração três elementos fundamentais que determinam o tipo caracterológico segundo a proporção com que se combinam; a emotividade, a actividade e a ressonância das impressões.
“Conhecer o temperamento dos filhos”
(Anna Maria Costa, in “Conheça seu filho”, 3ª edição, Quadrante, São Paulo, 1995″)