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Tremeluzem os Astros do Céu nítido:
Dona Cigarra faz serão.
Como há-de ela dormir, se a vida é curta?
– Cigarra que se preza, quando morre,
não deve estar a meio da canção.
Ninguém pára a saber por que é que ela canta.
Ninguém lhe dá ouvidos nem conforto.
Melhor, assim: assim, não perde tempo
Quem não pode cantar depois de morto.
A parte que lhe coube por destino,
tem de morrer deixando-a já cantada.
Que faz que não a escutem nem lhe acudam?
É preciso é sentir que se está vivo.
É preciso é que as asas que sosseguem
o tenham merecido.
(Sebastião da Gama)
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