«Nunca pensei em ter uma conversa séria com o meu pai» , diz lamentando um rapaz de dezassete anos.
«Eu gosto dos meus pais porque são meus pais, não porque o mereçam», diz com tristeza uma rapariga de catorze.
«Sinto-me incapaz de entender os meus filhos», assegura com consternamento uma mãe de família.
«Passei a vida a trabalhar com um louco, e agora vejo que sacrifiquei a minha família e que não tenho um só amigo de verdade», confessa com desolação um brilhante executivo com um casamento em ruptura.
«Estamos casados há doze anos e de há dez anos para cá vivemos como dois desconhecidos», afirma com amargura outra mãe desconsolada.
São exemplos de fracassos na educação afectiva, e poder-se-iam referir muitos mais, de todo o tipo.
Consideremos, por exemplo, o caso de uma rapariga de treze anos proveniente de uma família abastada, mas que tem problemas em relacionar-se com os seus colegas na escola. Não consegue concentrar-se e o seu rendimento escolar começa a baixar. O fracasso nos estudos leva-a a distanciar-se muito dos seus pais, que ficam desiludidos com as suas notas baixas. O seu sentimento de frustração cresce com o passar dos anos e recorre cada vez mais, à bebida aos fins de semanas, em diversos lugares de diversão, como forma de fugir aos seus problemas. O refúgio no álcool nesses lugares leva a uma série de relações sexuais com pessoas com idênticas estados emocionais. Aos vinte anos de idade, a sua vida é um completo caos e consulta o psiquiatra, com um quadro clínico agudo de alcoolismo e depressão.
É óbvio que esta situação tem, nessa altura, um conserto difícil. E, é também claro que quando a rapariga tinha treze anos nada faria prever uma evolução semelhante. A pergunta é esta: Que poderíamos ter feito, durante a sua infância e a sua adolescência, para alterar o curso dos acontecimentos? Poderíamos ter feito algo mais para chegar a tempo?
– Este último exemplo será um pouco extremado, não?
Talvez. Mas não é por isso que não deixa de ocorrer com muita frequência. A Organização Mundial de Saúde forneceu recentemente estatísticas ilustrativas:
Por exemplo, o suicídio é a primeira causa de morte em jovens entre os 18 e os 24 anos, nos países ocidentais; segundo outros estudos, um em cada cinco rapazes apresenta problemas psicológicos graves;
As doenças mentais ( principalmente ansiedade, depressão e fobias) constituem a causa mais frequente do baixo rendimento escolar em adolescentes. Muitos jovens iniciam muito cedo o consumo de álcool em excesso e, ao chegar aos vinte anos, um em cada seis apresenta sintomas de alcoolismo crónico.
A frequência de problemas alimentares (anorexia e bulimia, sobretudo) também disparou nos últimos anos.
A quantidade de adolescentes que fogem de casa (só em França, por exemplo, mais de cem mil por ano) também dá que pensar.
Se a isto juntarmos os estragos feitos pelas drogas, o inquietante fenómeno da violência juvenil urbana, o aparecimento de muitos rapazes provenientes de famílias sem estrutura e o crescente nível do fracasso escolar (em muitos casos conjuntamente com várias destas situações), o panorama pode apresentar-se como desolador.
Perante estes factos, muitos abanam a cabeça horrorizados e pensam que quase nada se pode fazer. É como se as condutas aditivas, violentas ou de abandono fossem o mais concorrido refúgio perante a desolação que sentem muitos jovens, e que a espiral de desmotivação ou de inconstância engole sem solução as suas vidas.
– São dados realmente preocupantes, sobretudo porque atrás de cada um destes casos existem dramas humanos muito dolorosos e que serão factor de condicionamento na sua vida adulta.
Sim, e por essa razão se declararam nas últimas décadas diversas cruzadas contra diferentes problemas que, ameaçam a nossa sociedade : o fracasso escolar, o alcoolismo, a gravidez na adolescência, a violência juvenil, as drogas, a instabilidade familiar, etc.
No entanto, continuamente se comprova que costumamos chegar demasiado tarde, quando a situação já alcançou proporções endémicas e as vidas dessas pessoas estão fortemente desordenadas.
(Alfonso Aguiló, www.interrogantes.net, tradução de Marisa Moreira)