Há uns tempos, fui ao hospital acompanhar uma aluna que estava doente. Enquanto estivemos à espera que a menina fosse chamada para fazer exames, outras pessoas aguardavam também a sua vez ou a da pessoa que estavam a acompanhar. Entre essas pessoas, houve uma que me chamou a atenção. Um homem, já não muito novo, com um casaco ao xadrez, talvez ainda mais velho do que ele, que o engolia de tão grande que era, permanecia de pé ao lado de uma maca, onde estava deitada uma senhora, que vim a perceber ser a sua mãe. Eu gostava de ser capaz de descrever o olhar do homem descido sobre o rosto da mãe, mas não sou. Havia amor e cansaço e medo. E, enquanto os dedos magros do homem passavam pelos cabelos brancos da mãe, o casaco parecia ainda maior e mais desbotado e pensei que talvez nos dias daquele homem, que se abandonava assim à ternura dos gestos que repetia, tudo na vida o tivesse abandonado e nada tivesse sido à sua medida, nada, a não ser o amor da mãe.
Texto de Elisabete Bárbara
imagem de Ivan Jones