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Características psicológicas dos 13 aos 16 anos

por Educar bem
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Introdução
Instabilidade
Causas da instabilidade
Efeitos na conduta
Causas da infelicidade

Introdução

Apesar das diferenças individuais da idade, de maturidade, é possível assimilar grandes etapas que nos sirvam de orientação geral, embora não correspondam nunca a um adolescente particular.

Pré-adolescência – período anterior aos 10-12 anos
Adolescência (período central) – 13-16 anos
Adolescência (período final) – 17-21 anos

Como os rapazes amadurecem um pouco mais tarde que as raparigas, podemos considerar que para elas as etapas serão aproximadamente as seguintes:

Pré-adolescência – 10 a 11 anos
Adolescência (período central) – 12 a 16 anos
Adolescência (período final) – 17 a 20 anos

Tal como nos anos de infância, o desenvolvimento que ocorre na adolescência produz-se de forma ordenada. Como em todos os adolescentes se dá um desenvolvimento muito similar, é possível observar neles certas formas características da conduta. Na sua descrição do adolescente típico dos nossos dias, Frank (1949) notou que quase todos os adolescentes se rebelam perante as exigências e proibições da família, se mostram ansiosos e indecisos, perturbados e com falta de segurança em si; procuram a segurança que lhes proporciona o grupo de indivíduos da mesma idade, mostram tendência para o “snobismo” e excluem os que não são membros da sua “camarilha”. Todos os adolescentes aspiram a merecer a aprovação dos que são um pouco mais velhos; perturba-os e preocupa-os tudo o que se refere ao desempenho do seu papel masculino ou feminino, acerca do que fazer e não fazer, do dizer e não dizer, para se mostrarem “masculinos’ ou “femininas”; sentem temor perante o sexo e possuem um sentimento de forte lealdade e devoção para com o grupo (Frank, (1949). As mudanças que têm lugar na pré-adolescência e no período inicial da adolescência são maiores do que aquelas que ocorrem mais tarde e acompanham as rápidas modificações físicas que acontecem no referido período.

As mudanças implicam a necessidade de se adaptar a elas, e quanto mais rapidamente se produzem tanto mais difícil será a adaptação. Durante os últimos anos da infância a vida desenrola-se a um ritmo relativamente calmo. As primeiras adaptações ao ambiente físico e social encontram uma solução bastante satisfatória na época em que a criança chega à idade escolar. A partir de então, e até à adolescência, as novas adaptações vão-se realizando de forma gradual, com tempo suficiente e com a ajuda de pais e mestres, o que forma a adaptação relativamente fácil.

O início da puberdade provoca modificações rápidas no tamanho e estruturas corporais. Estas mudanças físicas são acompanhadas de modificações interiores. O indivíduo torna-se desajeitado, torpe e com falta de segurança nos seus movimentos. Já não lhe interessam os seus colegas de jogo nem os seus entretimentos infantis. Possui um novo interesse pelo sexo oposto, pelo cinema, por actividades sociais e até por leituras que anteriormente desdenhava.

Além disso, surgem muitos mais problemas dos que jamais tinha tido que resolver num período tão breve. Dá conta gradualmente de que por força do seu aspecto físico, se espera dele um comportamento como o de um indivíduo adulto e não como o duma criança indefesa. O adolescente em cuja meninice houve uma preparação gradual para esta mudança, tem menos dificuldade em adaptar-se a ela que o adolescente cuja vida anterior se caracterizou pela dependência do adulto.

1. A instabilidade da adolescência

Como todas as transições, a adolescência caracteriza-se por um ir e vir do comportamento anterior ao actual e pela tomada de atitudes velhas e novas. A instabilidade e a contradição são índices de imaturidade; demonstram que o indivíduo não tem confiança em si, e que procura adaptar-se à nova situação que deve assumir no grupo social.

2. Causas da instabilidade

A instabilidade na adolescência deve-se não a uma, mas a muitas causas. As mais importantes são as seguintes:

Desenvolvimento rápido e irregular. Depois do período de crescimento relativamente lento na meninice, produz-se uma súbita aceleração, acompanhada de um desenvolvimento físico e mental muito rápido e irregular. À medida que o adolescente cresce, a despreocupada segurança da meninice abandona-o; a sua crescente maturidade mental prepara-o para encarar a realidade. Como carece dum fundo de experiência que lhe dê perspectiva e que modere os seus juízos, sente-se desprovido de equilíbrio. Então alterna entre o temor e a esperança, tendendo a exagerar os problemas e a não se sentir seguro.
Falta de conhecimento e experiência. A sociedade impõe muitas exigências ao adolescente, mas não lhe faculta um plano cuidadosamente traçado que o ajude a satisfazer essas exigências. Devido ao seu desejo de independência, o adolescente afrouxou os vínculos que o unem aos seus pais, e por conseguinte não pode recorrer a eles em busca de ajuda, nem contar com eles como o fazia quando era criança dependente da sua família.

Os pais, às vezes, aumentam a confusão do adolescente com reprovações, críticas e exigências; em vez de lhe darem explicações e o ajudarem a discernir (Frank, (1949).O adolescente sabe que se espera dele, adesão a certas normas. Ele próprio deseja isso para melhorar a sua situação social.

Exigências contraditórias. O adolescente dos nossos dias encontra-se confrontado por exigências contraditórias dos seus pais, professores, contemporâneos e da comunidade em geral. Em certo momento exige-se-lhe uma coisa, a seguir exige-se outra diferente. Pertuba-se e exaspera-se, quando lhe dizem: “Já és crescido para saber fazer as coisas melhor”; e pouco depois, quase de seguida, dizem: “Ainda não tens idade para fazer isto e aquilo”. Diz-se-lhe que deve assumir responsabilidades, ter juízo e decidir por si. A seguir tratam-no como uma criança e espera-se que obedeça submissamente aos seus pais e professores.

Quebras na formação e no ensino. Na maioria das culturas, a situação da criança difere da do adulto; na nossa cultura forçamos um pouco a nota para destacar essa diferença. Por exemplo, a criança deve ser protegida dos factos desagradáveis da vida, enquanto que o adulto deve exigir obediência. São poucos os casos em que não há quebras na formação da criança; esta é conduzida a não ser responsável, mas espera-se que assuma as suas responsabilidades quando for adulto. A transição do estado de submissão ao de independente não é nada fácil, porque se ensinou a criança a comportar-se de maneira submissa, e de repente pretende-se que se comporte de maneira independente.

É natural que haja instabilidade no período inicial da adolescência, o que demonstra que o adolescente se está a desenvolver; se ela não aparecesse, haveria motivos para crer que ele estaria aferrado à dependência infantil e a formas de conduta infantis. Não é desejável que a instabilidade se prolongue por um longo período, porque constituiria sinal de deficiente adaptação e que o adolescente estaria a enfrentar dificuldades para se desprender dos hábitos infantis e substitui-los por outros mais maduros. As mulheres têm mais dificuldade que os homens para ultrapassarem este período de transição. Ainda antes da puberdade, as raparigas apresentam maior número de sintomas neuróticos que os rapazes. Depois da puberdade, a instabilidade aumenta nas raparigas ao passo que diminui nos rapazes. Isto pode explicar-se pelas diferentes pressões exercidas sobre os dois sexos: elas encontram-se colocadas em maior número de situações de conflito do que os rapazes, assim como em situações nas quais os seus papéis não estão definidos com tanta claridade. Ao chegar a idade universitária, a diferença entre os dois sexos, quanto a frustrações e insegurança, ainda é mais pronunciada do que era na época da puberdade.

3. Efeitos sobre a conduta

Um período de transição deixa as suas marcas sobre a conduta do indivíduo. Como sente falta de segurança em si mesmo e na posição que ocupa, o adolescente tem tendência para a agressividade, a ser retraído e incómodo (Rose 1944). Torna-se extremamente sensível e reservado, especialmente quando está na companhia de gente que ele teme que não o entenda ou ponha a ridículo. A reserva pode tomar a forma de distanciamento e indiferença ou de indelicada e depreciativa altivez. Sente intensamente, vê-se afectado por estados emocionais, é dado a fantasias e é propenso a súbitas explosões temperamentais. É extremista, porque se sente incapaz de demonstrar que é competente. Alguns adolescentes exageram na sua dedicação às tarefas escolares, outros lançam-se febrilmente nos desportos, enquanto que outros dedicam o seu tempo quase exclusivamente a actividades sociais (Zachry, 1944).

Josselym (1951), que nos proporcionou apreciar um quadro vivo da instabilidade do adolescente, assinala que esta é sempre uma contradição. Na sua luta pela independência, o adolescente protesta veementemente contra as decisões protectoras dos adultos; mas quando é incapaz de administrar a sua independência, tão bem como quando era mais novo, solicita protecção em termos que não se lhe ouviam desde a infância. Mesmo que poucas vezes seja tão “santo” como pretende, também raramente chega aos extremos de conduta anti-social que ele afirma desejar adoptar. Em dado momento, segue com rigidez uma forma de conduta idealizada, mas subitamente viola, ou diz transgredir qualquer norma aceite. As suas relações com os outros são desconcertantes: em dado momento odeia, no seguinte ama. É tipicamente renitente a seu respeito e aos seus sentimentos, mas rapidamente põe a nu a sua alma. Rejeita os seus pais como se fossem “leprosos” numa comunidade de sãos, mas de repente idealiza-os (Josselyn, 1951)

Frequentemente, o adolescente não é feliz, embora tenha os seus momentos de felicidade e, não poucas vezes, de grande alegria. Com muita frequência estes são eclipsados pelas frustrações, os desencantos e as angústias que acompanham a saída da infância na nossa cultura actual.

A felicidade na adolescência depende de muitos mais factores que na infância. Graças à ajuda familiar, pode resolver satisfatoriamente as dificuldades da infância; mas quando chega a adolescência, a sociedade impõe-lhe maiores exigências e dispõe de menor ajuda para as satisfazer. Ao aumento das exigências do grupo social, soma-se a própria consciência da necessidade de aceitar responsabilidades e os próprios níveis de aspirações que em geral são alcançados. Estes novos factores vão contra a prossecução desse estado feliz que ele conhecia enquanto foi menino protegido e relativamente despreocupado.

4. Causas da infelicidade

São muitas as causas de infelicidade na adolescência. As mais comuns são as seguintes:

Pressões sociais. Como assinalou Enghlis (1947), a adolescência em vez de ser um dos períodos mais felizes e construtivos da vida, vê-se com demasiada frequência afectada pelos adultos, tanto pais como professores, que enchem esse período de conflitos mais do que seria desejável.
Os adultos temem que o adolescente não chegue a ser um indivíduo trabalhador, que não seja suficientemente obediente, agradecido ou que se extravie na sua vida sexual. Consequentemente, os adultos, especialmente os pais, refilam, admoestam, censuram ou castigam e, frequentemente, actuam como freio dos esforços dos adolescentes para conseguirem ser adultos maduros e independentes. (Enghlis, 1948)

Problemas de adaptação. Em qualquer idade, a adaptação vai acompanhada de ansiedade mais ou menos intensa. E a maior ansiedade apresenta-se na área do desenvolvimento. No caso dos adolescentes, a principal fonte de conflitos de adaptação situa-se no desenvolvimento físico-sexual, com o seu concomitante desejo de expressão (Plaut, 1944). O grau de felicidade que o adolescente consiga, encontrar-se-á determinado pela forma como reagir face a estes problemas de adaptação.

Falta de segurança. Como a maturidade sexual tem tanta importância para as crianças, estas esperam que a atitude da sua família em relação a si mesmas se modifique quando atingirem a maturidade sexual; e, se aquela não ocorrer, ficam naturalmente desiludidas. Além disso, o adolescente já não se vê livre de responsabilidades, como quando era criança, e ainda não possui os direitos e privilégios dos adultos. A incomodidade desta posição torna-o fatalmente infeliz.

Deseja ser reconhecido, compreendido e amado, mas, ao mesmo tempo, receia aproximar-se demasiado dos outros. Daí resulta uma sensação de solidão.

Por um lado, reclama liberdade e independência, por outro, tem medo de enfrentar a realidade.

Idealismo. Qualquer adolescente possui elevados ideais a respeito de si mesmo, da sua família, dos amigos, da comunidade e da Pátria; mas poucas vezes alcançam os níveis por si idealizados. Um estudo realizado com adultos acerca dos resultados e experiências desagradáveis da adolescência, revelou que as mais comuns estavam relacionadas com os insucessos escolares, a morte de amigos e familiares, a perda de amigos, as discussões com os pais, a ruptura de amizades com pessoas do sexo oposto, os sentimentos de inferioridade e a falta de popularidade.

Frustrações nas relações heterossexuais. Os namoricos podem ser experiências felizes para os adolescentes, mas de facto, poucas o chegam a ser. Essas experiências são acompanhadas de tal intensidade emocional que estão quase sempre condenadas ao fracasso desde o principio e, quando são interrompidas, ou se frustram ou acabam por resultar em experiências muito dolorosas.

Como para a maior parte a adolescência é a “idade do romance”, poucos adolescentes encontram nas suas experiências românticas a felicidade que tanto sonharam nos tempos dos contos de fadas em que todos os romances terminaram em idílio e os enamorados “viviam eternamente felizes.”

Biologicamente, o adolescente alcançou a maturidade sexual, mas ainda não aprendeu a controlar os seus novos apetites sexuais. Isto origina conflitos interiores e problemas de moralidade cuja solução deve encontrar ele mesmo. Já não pode continuar a aceitar simplesmente as opiniões dos outros.

Sentimentos de insuficiência. Como os adolescentes têm, em geral, conceitos ilusórios acerca das suas atitudes e alimentam níveis de aspiração acima das suas possibilidades, sentem-se uns incapazes quando não alcançam os objectivos que se propuseram. A competição com os outros no estudo, no desporto, nos assuntos sociais e em todos os sectores da sua actividade, torna-se cada vez mais intensa à medida que passam os anos.

Efeitos sobre a conduta. A infelicidade da adolescência manifesta-se de muitas formas, sendo fácil conhecer as causas de algumas. Aumenta a conduta temerária, a falta de consideração pelos outros, a grosseria e aspereza no falar, o uso tosco do idioma, como demonstra o aumento do uso dos insultos e do palavreado grosseiro. Reserva no que respeita aos assuntos pessoais, estados de tristeza e melancolia, intolerância perante os outros e maiores exigências de dinheiro para os seus gastos pessoais. O adolescente resiste às indicações e faz frequentemente o contrário do que se aconselhou; é menos efusivo com os membros da família, desdenha qualquer tipo de sentimentos e encanta-o vestir-se de maneira excêntrica, indo até aos extremos de usar roupa andrajosa e suja, ou de adornar-se de forma excessiva.

Uma das maneiras mais comuns de resolver a situação que lhes provoca infelicidade é fugir dela. Muitos adolescentes fogem de casa, abandonam os estudos e começam a trabalhar para poderem ser independentes. Entre os adolescentes insatisfeitos consigo mesmos e com o papel que desempenham na vida, é vulgar o desejo de serem outra pessoa; assim, escolhem normalmente como ideal alguém famoso que represente uma posição de prestigio na sociedade.

Nesta idade são normais todas as expressões de insatisfação e infelicidade já enumeradas. Isto demonstra que a adolescência está atravessar um período de adaptação, do mesmo modo que as birras de um menino de 2 ou 4 anos demonstram que está a procurar tornar-se independente da dominação paterna. No entanto, a maioria dos adultos não reconhece a causa desta conduta difícil dos adolescentes, piorando esta situação ao mostrarem-se feridos nos seus sentimentos ou ao queixarem-se de que o adolescente é um ingrato, um egoísta sem consideração por ninguém.

Muitos adolescentes sentem-se de tal modo infelizes que se produzem perturbações na sua personalidade.

Por outro lado, dessa época de desejos egocêntricos de poder, êxito e valor físico – características do período médio da adolescência – o adolescente sai com grande capacidade de amor desinteressado, de generosidade, de espírito de sacrifício, de humildade e dedicação a pessoas e a causas. Sente profunda necessidade de amigos da mesma idade e principalmente do mesmo sexo. Encontrar-se com outros que passam pelas mesmas experiências proporciona-lhe um verdadeiro apoio afectivo.

O adolescente sente necessidade de compreender o seu comportamento, as suas causas e como conseguir a independência afectiva. Isto supõe conhecimento de si mesmo, o qual implica capacidade de domínio de si próprio. Tem grande necessidade de apoio e simpatia na luta por estabilizar a sua oscilante personalidade e para a adequar a realidade externa e interna. Precisa e deseja segurança em Deus.

Por fim, a terapêutica que aconselhamos aos pais e professores é que mantenham sempre – apesar da dificuldade que isso representa – um ambiente de calma e segurança. Que considerem que a adolescência passará, e todos os conselhos individuais devem reger-se pela serenidade, sinceridade e verdadeiro interesse.

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Bibliografia:

GESSEL, Psicologia evolutiva de 1 a 16 aflos, Ed. Paidós, Buenos Aires, 1963.

HURLOCK, Desarrolio Psicológico dei Nulo, Ed. del Castillo, Madrid, 1963.

“Nuestro Tiempo”, nº 211, Janeiro 1972. Este número é dedicado todo à adolescência.

HURLOCK, Psicologia de la adolescência, Ed. Paidós.

DEBESSE, La adolescência. Vergara. A adolescência é abordada do ponto de vista individual e social.

MORAGAS, Pedagogia familiar, Ed. Lumen, Barcelona, 1964.

Há já muito tempo que, por um desses contratempos informáticos, perdemos o nome do autor deste texto. Se o quiser citar num trabalho, coloque o endereço electrónico da página de  Educar bem de onde o retirou.

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